Relatório de Vindima 2022

O ano vitícola de 2022, terá sido um dos mais desafiantes dos últimos anos… tivemos um ciclo vitícola quente e seco, com ondas de calor desde da Primavera. Para contribuir ainda mais para a dificuldade do ano, o início de chuvas na segunda semana de Setembro, que foram agravadas na terceira semana com a Tempestade Danielle. O tempo levantou na quarta semana de Setembro, mas manteve-se incerto, húmido, mais fresco. Todo este fim de temporada de maturação, tão intenso, e variado meteorologicamente, colocou-nos à prova constantemente, em particular ao nosso processo de tomada de decisão…. Esperar ou avançar, cortar já ou confiar na rigidez das peliculas e vindimar mais tarde!? Certo é que a chuva, permitiu equilibrar a maturação das uvas que estavam ainda no campo – Tinta Roriz, Syrah,
Baga e a Touriga Nacional.


A nossa vindima começou dia 30 de Agosto, na vinha da Póvoa das Quartas, sub-região do Alva. Colhemos os brancos que estavam equilibrados, com boa acidez e com um grau álcool potencial de cerca de 12%. Arrancamos a nossa vindima, sob o equilíbrio fresco da acidez. Desse dia em diante fomos colhendo mais brancos. Dia 01 de Setembro, recolhemos parte do nosso Jaen de Girabolhos e de Vila Nova de Tazem (sub-região Serra da Estrela), uma vez mais
procurando a frescura e a fruta vermelha nesta casta em oposição a uma maior maturação. Tivemos então o primeiro intervalo na vindima. Decidimos esperar um pouco mais pelos restantes brancos da nossa vinha de Girabolhos, para obtermos um mosto mais cheio, com fruta de caroço. Poucos dias depois recolhemos o restante Jaen, um pouco mais maduro que o primeiro para construirmos uma base de um vinho mais heio, mais estruturado. Receando a tempestade prevista vindimamos num sábado de calor (10 de Setembro) a nossa querida vinha velha de Girabolhos. Num intervalo antes do primeiro “diluvio” da tempestade Danielle, recolhemos a seco, na manhã de dia 12 de Setembro, um impecável maduro e sádio Encruzado.


O tempo chuvoso, durante cerca de 5 a 6 dias em meados de Setembro, e a necessidade de esperar por dias soalheiros, fez-nos esperar (tensos e atentos) por mais de 10 dias. Voltamos ao campo frequentemente, para verificar o estado das peliculas, das uvas, a ausência de doenças e podridão. Tudo se manteve intacto e firme até retomarmos o corte de uvas dia 21 de Setembro, entramos tranquilos a vindimar a estrangeira da nossa família – Syrah. Depois continuamos com a Touriga Nacional, a nossa querida Baga, tendo terminado a vindima dia 27 de Setembro com uma heróica Tinta Roriz, irrepreensivelmente intacta, sã e bonita! Todos sabemos que “até ao lavar dos cestos é vindima”, acabamos o corte das uvas, mas tínhamos trabalho de sobra dentro da adega. Mostos em fermentação, vinhos novos, trasfegas e lavagens, barricas, atestos e talhas… Tudo, o atrás referido, faz parte do nosso dia-a-dia depois da adiafa celebrada com um almoço de família. Brindamos e comemos, em família com as pessoas que nos permitiram a vindima irregular na cadencia, que as uvas e o tempo, pediam. Sem um enorme conjunto de várias equipas, de sincronias, de paciência e empenho, não teríamos sido capazes de recolher tão bem uvas tão sádias. Um enorme bem-haja a todos e a tantos.


Na No Rules Wines, não somos agricultores no dia-a-dia, somos uma equipa diversa, multifacetada que orbita em diferentes geografias, das mais interiormente remotas, às mais cosmopolitas! No entanto, todos nós temos passados ligados à ruralidade, ao campo. Eu tenho a certeza de todo o empirismo que via aplicar aos meus avós, nas decisões agrícolas que contavam com a incerteza do clima e com a memória de anos de observação, faz a diferença, fez a diferença, nesta campanha agrícola, bem como em campanhas agrícolas passadas. Decidir entre fazer já, ou esperar… ainda que a paciência escasseie e a adrenalina peça acção. A este empirismo “borda de água” do passado que venho sorvendo aos poucos, acrescentamos ciência, o respeito pela uva, e o cuidado em manter belo o que é belo. Os próximos anos serão diferentes, melhores ou piores… não sei! Este foi um ano difícil, mas fizemos coisas bonitas, esperem um pouco para provar.